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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não tenho tempo

Saí.
Lá fora os homens saíram.
Iam.
Vinham.
Andavam.
Corriam.
As bicicletas corriam.
Os automóveis corriam.
Os caminhões corriam.
A rua corria.
A cidade corria.
Todo o mundo corria.
Corriam todos, para não perder tempo;
Corriam ao encalço do tempo;
pra recuperar o tempo,
pra ganhar tempo.

Até logo, doutor, desculpe-me, não tenho tempo.
Passarei outra vez, não posso esperar mais, não tenho tempo.
Termino aqui esta carta - pois não tenho tempo.
Queria tanto te ajudar - mas não tenho tempo.
Não posso aceitar, por falta de tempo.
Não posso refletir, nem ler, ando assoberbado - não tenho tempo.
Gostaria de rezar - mas... não tenho tempo.
Compreendes, eles não têm tempo... agora mesmo... mais tarde...
O estudante tem seus deveres a fazer, não tem tempo... mais tarde.
O universitário tem suas aulas, e tanto trabalho que não tem tempo... mais tarde...
O rapaz pratica esporte, não tem tempo... mais tarde...
O que casou há pouco tem sua casa, deve organizá-la, não tem tempo... mais tarde...
O pai de família tem seus filhos, não tem tempo... mais tarde...
Os avós tem seus netos, não tem tempo... mais tarde...
Estão doentes - precisam tratar-se... não tem tempo... mais tarde...
Estão à morte... Tarde demais... não tem tempo.
Assim correr todos os homens atrás do tempo.
Passam correndo, pela Terra, apressados, sobrecarregados, enlouquecidos, assoberbados.

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